Conto – A churrascada (parte I)

Por Charlis Haubert

“Buenas”,

Carneamos o bichano e mandei o Juvêncio aprumar a lenha para o fogo de chão enquanto eu catava as taquaras para os espetos. Convidei os vizinhos para a churrascada e, por um minuto, esqueci que estava deselegante dos “pila”.

Por logo, chegou o velho Pedro Uruguai com sua senhora Madalena e sua bela filha Gertrudes, dentro da Belina azul calcinha 1973. O possante “esfumaciava” infinitamente mais que o meu fogo de chão. Sem muita demora, chegou Bertoldo Farrapo acompanhado de sua respectiva, Maria Mercedita, e Raimundo Candieiro e sua Senhora Joselita.

Estava tudo em ordem. Aproveitei o fogo da churrascada para aquentar a água para o mate.

Já fazia mais de quinze minutos que o compadre Pedro Uruguai tinha chego e o lugar ainda fedia ao cheiro daquela Belina. Não me aguentei…

– Mas compadre de Deus, que catinga tu trouxe junto com esta tua Belina velha? Parece movida a carvão.

– Compadre Florêncio. Camionete faz mais fumaça.

De pronto respondi.

– Isso não é uma camionete, é um carro estendido.

Com uma risada de canto, Pedro me respondeu…

– Caro compadre, isso é um “Estation Vagon”

– “Estation Vagon”? Que diabo é isso?

– “Wagon” porque tem bastante espaço vago, igual camionete.

–  Hum, pode até ser vago, mas faz muita fumaça.

No meio da prosa, eu olho para o lado e flagro algo que nada me surpreende. Juvêncio, o energúmeno e mulherengo primogênito que Deus me deu, de frescura com a Gertrudes. Afundando o barro com minhas botas, avancei com vontade de pegar aquele “aporreado” pelo pescoço. Puxei ele pelo braço e repreendi tentando não alardear demais.

– Escuta aqui piá, tu te arranque do lado dessa guria pra evitar arranca rabo.

– Bah velho, não viaja. Tô só trocando uma ideia com a mina.

– Piá de bosta, seja lá o que tu tá trocando com essa guria, tu paras agora antes que eu te troque por um  “tchantcho” daqueles bem rosado e gordo.

– Não força. Vou dar uma volta então pra espairecer…

Me senti aliviado e livre desse guri infernal. Voltei a roda de chimarrão ao redor da fogueira. Ao começar a conversar com os companheiros, escanteio os olhos e não consigo enxergo Juvêncio. Tão pouco Gertrudes. Se Pedro desconfia o bochincho estaria feito. Rezei que nada fora do esperado acontecesse, senão as espingardas iriam chorar seu gosto amargo.

Tiago Haubert

Tiago Haubert é escritor e sonhador, empresário idealizador da marca de roupas FORS e advogado. Mantém o blog Causos de um aspirante a escritor que traz dicas para escritores e tem o intuito de apoiar a literatura nacional. Escreve também no “blog Tiago Haubert” do site “Tudo sobre floripa”. Em 2015 terá seu primeiro romance – Enigmas dos Sonhos: O Pergaminho Encantado – publicado pela Editora Selo Jovem.

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