Um comprador para os Ovinos – Contos do gaúcho Florêncio

Post criado por Charlis Haubert.

Buenas…

Já faz uns dias que não tenho mais crédito na praça. Não me vendem mais fiado. A crise apertou e junto começou a bater o desespero. Relutei, mas não tinha jeito, precisava vender minhas ovelhinhas.

Coloquei um anúncio na venda do velho Anastácio e não demorou muito pra me aparecer um chirú interessado no meu rebanho. Pesquisei um pouco do vivente e descobri que era novo na querência e ninguém sabia muito sobre o andarilho. Mas tudo bem, a crise tava desgraçada e eu precisava de um comprador.

Eu fiquei intrigado. O “hôme” usava uma bombacha de couro grudada no corpo, cabelos de mulher e brinco na orelha. Mesmo assim, levei o churú pra fazenda.

Logo que ele viu meus ovinos, exclamou:

– Tchê , mas como tá lindo esta tua vacaria!!!

Eu me desesperei e sem quase conseguir respirar, respondi de pronto:

– Isso é “oveia” rapaz…

– Sim claro, uma vacaria de ovelha. É um novo termo que usamos na cidade.

– Eu nunca ouvi falar disso, mas buenas, vamos ao que interessa…

– Claro, claro… Quantas cabeças o senhor tem aqui?

– Chê, são 238 ovelhas. Ali você pode ver as Merino e as Rambouillet que eu uso para a venda de lã. Mais adiante tem as  Drysdale que eu uso a lã para vender para a fabrica de tapetes.  As que eu negociava com o frigorifico são as Suffolk e as Hampshire que são boa de carne. Por fim, a maior parte da criação é da raça Coopworth, pois são de dupla finalidade. Eu aproveito a lã e a carne.

Esse vivente anotava tudo em um pequeno bloquinho de papel e dava uns “tapinhas” em um mini chapeuzinho que ele deve ter comprado em algum pet shop. Eu já estava nervoso até que, dobrando levemente uma perna ele levou a caneta até a boca e para descotrair me perguntou:

– Seu Florêncio, as “Merindos” as “Rambolet” tem a lã maciazinha e resistente? Digo, pra fazer cobertor, porque uma ovelha que tem a mistura do nome da raça de rambo e ballet deve ser muito resistente e delicada ao mesmo tempo.

Por Deus do céu que eu não queria ter entendido a piadinha sem graça que o infeliz tentou fazer.

– Que? – indaguei.

– Deixa pra lá. As “sulfoque” e as “rampichaire” são boas de carne né!? Mas como você as abate? Elas são sufocadas? Mal consigo imaginar elas morrendo…. Aí que dó!

– Não vivente, elas são tosquiadas aqui e depois mandadas para o frigorifico.

– As “Copovorti” são mais fáceis de criar?

Eu já não tinha mais saco pra aquele “lôco”, então dei uma bufada e perguntei:

– Chê, tu já trabalhou na lida de campo?

– Não.

– Tu sabes o que dar de comer pra esses bichos?

– Não, mas eu procuro tudo no Google.

– Vivente, tu fazes o seguinte. Vai pra casa perguntar pra esse seu amigo como se amamenta uma cobra e depois tu voltas aqui… Até mais ver!

Quando adentrei no galpão, adivinha quem estava lá a minha espera? Juvêncio, com seu sorriso exalando ironia, rindo da minha cara.

Não foi desta vez que eu espantei a crise da minha estância.

 

 

Tiago Haubert

Tiago Haubert é escritor e sonhador, empresário idealizador da marca de roupas FORS e advogado. Mantém o blog Causos de um aspirante a escritor que traz dicas para escritores e tem o intuito de apoiar a literatura nacional. Escreve também no “blog Tiago Haubert” do site “Tudo sobre floripa”. Em 2015 terá seu primeiro romance – Enigmas dos Sonhos: O Pergaminho Encantado – publicado pela Editora Selo Jovem.

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